Uma folha de papel em branco pode tanto.
Nela pode estar um Leão de Cannes. Um Oscar. Um Pulitzer.
Me sinto um assassino cada vez que insiro uma nova linha e impeço a folha, antes branca, de se tornar tudo o que ela poderia ser. Ainda que seja uma folha como esta, virtual, que não exigiu o sacrifício de árvore alguma para nascer.
Me sinto mutilando todas as suas possibilidades, para dar vazão a uma idéia que talvez não devesse sequer ter sido concebida. Me sinto destruindo roteiros, matando personagens e roubando prêmios.
Folhas são puras. Santas. São o caldo primordial. São propagadoras de toda fé. De toda cultura. De toda História. São as mães de Dom Quixote, tanto quanto Miguel de Cervantes é seu pai. De Moby Dick. Do “Wazuuuuup!”
Na tela, o cursor toma o lugar da pena de ganso, e pisca... pisca cobrando uma idéia que seja digna de empurrá-lo para a direita. Digna de violar a cal silenciosa, opressora e acolhedora.
Morro de medo de folhas de papel em branco. Toda caneta é fecunda e contraceptiva. Temo por não saber qual é a minha.
22 de jun. de 2005
:: Placenta e celulose ::
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Um comentário:
E aí, assassino de papel! :)
Uma folha em branco pode realmente ser muito, do Pulitzer a uma folha amassada, sendo arremessada ao lixo. Riscos...
Ela é limpa, é pura, mas a pureza precisa, também, de algo que a forteleça. A pureza sozinha não vai muito longe. (nossa, pareceu cruel dizer isso...) Você não a mutila ao utilizá-la, você a engrandece. Sem suas idéias nela expostas ela não é muito, é apenas uma limpa folha de papel - ou uma limpa tela no computador. Como você mesmo disse, o cursor pede uma idéia, uma palavra. A folha pede um rabisco. Não é um erro rabiscá-la. Caso seja, tente novamente. (A criança precisa nascer, Renato!) =D
Ritmo intenso no blog? Calma! Não te acompanho assim rs...
bjs
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