- Nota: o (aperte o alt) é um blog de contos e crônicas. No entanto os leitores votaram por ler relatos da minha jornada pela Índia enquanto estiver aqui, ou seja, até dezembro. Peço, também por isso, compreensão pela irregularidade nas postagens.-
Varanasi é mais velha do que o tempo, já dissera Mark Twain.
Foram 21 horas de trem, saindo de Amritsar. Na cabine, dividi histórias com passageiros que vieram e foram, completando trajetos menores do que o meu: fui o único a percorrer todo o caminho.
E a cidade, talvez a que eu mais ansiava conhecer, recepciona-me mostrando como são suas tardes: quentes, secas, agitadas. Varanasi é a cidade mais antiga do mundo, contemporânea das bíblicas Nínive e Babilônia, e os primeiros minutos do lado de fora da estação comprovam isso. Como em nenhum outro dos lugares que visitei, este é um caldeirão onde circulam todo tipo de fé, todo tipo de gente, todo tipo de realidade: um coração que bate incessante há milhares de anos, inspirando vida e exalando, com a mesma naturalidade, a morte; sagrada para os hinduístas, consideram bênção morrer na cidade: cremados seus corpos e jogadas suas cinzas no Ganges, crêem serem libertos do ciclo de morte e renascimento.
As ruas transbordam de pessoas e animais: na parte mais antiga de Varanasi, compõem um emaranhado que estende-se como a teia de uma aranha, formando um labirinto impossível de vencer sozinho. E quanto mais enredado, quanto mais absorvido o visitante se permite estar, mais irreais parecem os cenários, mais distantes parecem as pessoas, mais indecifráveis são os rostos.
Fumaça de incenso mistura-se à comida preparada a portas abertas em minúsculas cozinhas. Casas de um só cômodo acotovelam-se à margem do rio sagrado. No trânsito, cortejos fúnebres, onde os que partiram são carregados nos ombros por homens, são tão comuns quanto riquixás, quanto ônibus, quanto o gado.
Rituais acontecem a todo canto, a todo momento, para a infindável miríade de deuses que confundem-se com tudo o que existe ao alcance da vista. Varanasi é uma cidade-religião, um microcosmo que, sem ela, se desmantelaria.
Sou apresentado aos lugares turísticos. Aos lugares curiosos. Mas não há nada que se compare ao que é a cidade em si, nada que se compare a ver o ir e vir das pessoas, em seus casos e coisas, em suas cores e em sua pressa, como se o caos que assusta os olhos ocidentais simplesmente não existisse; e convenhamos: somente quem mora nesse incrível turbilhão pode e tem o direito de dizer o que é caos e o que é calmaria.
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Varanasi é mais velha do que o tempo, já dissera Mark Twain.
Foram 21 horas de trem, saindo de Amritsar. Na cabine, dividi histórias com passageiros que vieram e foram, completando trajetos menores do que o meu: fui o único a percorrer todo o caminho.
E a cidade, talvez a que eu mais ansiava conhecer, recepciona-me mostrando como são suas tardes: quentes, secas, agitadas. Varanasi é a cidade mais antiga do mundo, contemporânea das bíblicas Nínive e Babilônia, e os primeiros minutos do lado de fora da estação comprovam isso. Como em nenhum outro dos lugares que visitei, este é um caldeirão onde circulam todo tipo de fé, todo tipo de gente, todo tipo de realidade: um coração que bate incessante há milhares de anos, inspirando vida e exalando, com a mesma naturalidade, a morte; sagrada para os hinduístas, consideram bênção morrer na cidade: cremados seus corpos e jogadas suas cinzas no Ganges, crêem serem libertos do ciclo de morte e renascimento.
Fumaça de incenso mistura-se à comida preparada a portas abertas em minúsculas cozinhas. Casas de um só cômodo acotovelam-se à margem do rio sagrado. No trânsito, cortejos fúnebres, onde os que partiram são carregados nos ombros por homens, são tão comuns quanto riquixás, quanto ônibus, quanto o gado.
Rituais acontecem a todo canto, a todo momento, para a infindável miríade de deuses que confundem-se com tudo o que existe ao alcance da vista. Varanasi é uma cidade-religião, um microcosmo que, sem ela, se desmantelaria.
Sou apresentado aos lugares turísticos. Aos lugares curiosos. Mas não há nada que se compare ao que é a cidade em si, nada que se compare a ver o ir e vir das pessoas, em seus casos e coisas, em suas cores e em sua pressa, como se o caos que assusta os olhos ocidentais simplesmente não existisse; e convenhamos: somente quem mora nesse incrível turbilhão pode e tem o direito de dizer o que é caos e o que é calmaria.
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Publicado por Renato Alt
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